Diálogo Íntimo.

Aí você muda seus conceitos, diz que poesia não é algo tão bonito assim, que a música só serve para iludir uma alma ou fazê-la entrar em um êxtase momentâneo, que não cura, não surte efeito nenhum, não ajuda e que depois que o silencio volta, voltam as mágoas, ressentimentos e dúvidas.

Diz que amanhã vai ser igual ao hoje, que depois pode nem fazer tanta diferença assim, que sonhar é para os fracos, que a vida exige de nós atitude e que os sonhadores geralmente caem e, metaforicamente dizendo (já se contradizendo, porque metáfora é figura de linguagem associada aos textos poéticos), quebram o pescoço.

Diz também que eu sou fraca, porque acredito nas pessoas, acredito no amanhã, acredito que posso fazer diferente, que vou saber me defender, que, aliás, não vou nem me machucar tanto assim,porque os meus amigos de verdade não vão me ferir e que eu estou completamente enganada, porque vai chegar uma hora que eu vou estar sozinha, sem ninguém, sem sonhos, sem amigos, sem amparo, ferida, no fundo do poço e que provavelmente vou me dar conta que meus amigos, os meus, como eu dizia, não passavam de fracos, que me abandonaram na primeira oportunidade, correram e foram resolver seus próprios problemas porque, é, eles também têm suas vidas e precisam cuidar delas. E você ainda diz que, quado tudo isso acontecer, eu vou me deprimir, vou chorar, vou gritar, vou amaldiçoar e maldizer ao mundo todo e que, depois, quando eu estiver em pedaços, quando eu esgotar todas as minhas forças nessa agonia e tristeza profunda, vou me dar conta de que precisava dela pra me levantar. E vou me levantar com dor, porque aí já vai ser tarde demais.

E eu concordo com você.